HERANÇA DE NELITO AO POVO E À CIDADE QUE ELE AMOU
David Nasser, peço –lhe desculpas por um texto seu dedicado ao seu amigo Juscelino, para escrever, através dele, o testamento de um grande amigo meu.Quero aqui, não plagiar você David Nasser, mas trazer à luz, para toda a Urucânia, o testamento de Nelito.
”Deixo à minha cidade, a mais amada e mais querida, a confiança. Confiem que dias melhores virão. Eu a vi barreta como a menina descalça e a calcei. Eu a vi simplória e desajeitada, e a enfeitei com praça, jardins e flores de lampião. Eu a vi triste sem lazer, e lhe dei uma praça de esportes. Eu a vi inculta, e lhe dei escolas.
Eu vi nela um biquinha e lhe dei água encanada, e nem por isso desprezei sua biquinnha, hoje morta e enterrada.Eu a vi longe do mundo, sem comunicação e difícil acesso e lhe dei telefone e estradas asfaltadas.Eu a quis bonita por amor – muitos dizem que foi bairrismo.Mas o que é o bairrismo senão o amor? E ela não me traiu.Quando convidei pela primeira vez os amigos ausentes para virem vê-la, encontraram-na bonita e hospitaleira e o meu coração enamorado transbordou de alegria.
Deixo aos meus concidadãos a tolerância. Ah! Muitas vezes a injustiça me feriu.Fui vitima de incompreensão ou de má fé.Nem sempre o apedrejado fui eu.Às vezes foram os meus,e isto meu doeu.Nunca recorri aos meios inumanos pra combater as idéias, respeitando-as sempre, sem aceitar sempre.Olhei para cada concidadão olho,cara a cara.Nada temi e, sobretudo, os respeitei.
Deixo aos sonhadores uma cidade de sonho e a certeza de que cada sonho é possível de se realizar com perseverança, firmeza e trabalho. Não deixem de sonhar. Sonhar e preciso e realizar e possível. Se não todos,realizei grande parte dos meus sonhos.Louco?Não.Apenas um sonhador de pés no chão.
Deixo aos pessimistas o espetáculo do otimismo de todos os dias da minha vida. Mesmo nas horas mais trustes eu cantei. Cantei apaixonado pela minha amada.
Deixo aos revoltados a minha paciência. Desde cedo aprendi a conhecer os homens, e tolerar suas fraquezas, e a olha mais suas obras do que suas falhas. Uma a uma, venci todas as etapas da vida, de cabeça erguida, de olhos no futuro.Chorei quando tive que chorar.Cantei quando tive que cantar.Sorri quando tive que sorrir.È a vida.E a vida o que é, diga lá meu irmão!Fui Humano o bastante para compreender a humanidade feita de argila e ouro. Eu só vi o ouro.
Deixo aos que me amam a minha igual capacidade de amar. Amei .Tudo o que é belo: Um gesto de mulher, um afago de um filho, uma serenata, um jogo de futebol, um baile no GEU.Ah, o GEU, como o amei.Amei sua camisa, a sua bandeira e o seu hino.Acho que fui capaz de amar tudo e todos.Mesmo nas horas de desamor, eu camisa, a sua bandeira e o seu hino.Acho que fui capaz de amar tudo e todos.Mesmo nas horas de desamor, eu amei.
Deixo aos que enriqueceram a lição do desprendimento. O dinheiro passou por mim. Não ficou
Deixo aos que me odeiam, a minha pena. Deus me poupou de tal sentimento.Por mais que tentasse, nunca em minha vida compreendi o ódio.Recebi agravos, sofri ironias e raras vezes isso me revoltou.
Deixo aos que me amaram a minha desculpa por deixar seu convívio. Francamente, eu julgava ir muito mais longe. Estava preparado física e mentalmente. Plantava árvores e esperava colher os frutos. Mas tive de partir para uma grande viagem.
Deixo aos que me acompanharam no último adeus, a minha saudade.Naquela despedida marcada de tantas coroas de flores, que a cada passo se desprendiam e caiam pela cidade, como que marcando o compasso do meu adeus.
Deixo aos meus filhos a minha luta. A vocês, que nada posso lhes dar senão o meu exemplo de luta. Lutei, filhos, dia a dia por vocês e pelos meus sonhos.E vocês estavam incluídos neles.A vida continua e eu só lhes deixo o meu maior legado: A luta pela vida”.
Nelito