HERANÇA DE NELITO AO POVO E À CIDADE QUE ELE AMOU
David Nasser, peço –lhe desculpas por um texto seu dedicado ao seu amigo Juscelino, para escrever, através dele, o testamento de um grande amigo meu.Quero aqui, não plagiar você David Nasser, mas trazer à luz, para toda a Urucânia, o testamento de Nelito.
”Deixo à minha cidade, a mais amada e mais querida, a confiança. Confiem que dias melhores virão. Eu a vi barreta como a menina descalça e a calcei. Eu a vi simplória e desajeitada, e a enfeitei com praça, jardins e flores de lampião. Eu a vi triste sem lazer, e lhe dei uma praça de esportes. Eu a vi inculta, e lhe dei escolas.
Eu vi nela um biquinha e lhe dei água encanada, e nem por isso desprezei sua biquinnha, hoje morta e enterrada.Eu a vi longe do mundo, sem comunicação e difícil acesso e lhe dei telefone e estradas asfaltadas.Eu a quis bonita por amor – muitos dizem que foi bairrismo.Mas o que é o bairrismo senão o amor? E ela não me traiu.Quando convidei pela primeira vez os amigos ausentes para virem vê-la, encontraram-na bonita e hospitaleira e o meu coração enamorado transbordou de alegria.
Deixo aos meus concidadãos a tolerância. Ah! Muitas vezes a injustiça me feriu.Fui vitima de incompreensão ou de má fé.Nem sempre o apedrejado fui eu.Às vezes foram os meus,e isto meu doeu.Nunca recorri aos meios inumanos pra combater as idéias, respeitando-as sempre, sem aceitar sempre.Olhei para cada concidadão olho,cara a cara.Nada temi e, sobretudo, os respeitei.
Deixo aos sonhadores uma cidade de sonho e a certeza de que cada sonho é possível de se realizar com perseverança, firmeza e trabalho. Não deixem de sonhar. Sonhar e preciso e realizar e possível. Se não todos,realizei grande parte dos meus sonhos.Louco?Não.Apenas um sonhador de pés no chão.
Deixo aos pessimistas o espetáculo do otimismo de todos os dias da minha vida. Mesmo nas horas mais trustes eu cantei. Cantei apaixonado pela minha amada.
Deixo aos revoltados a minha paciência. Desde cedo aprendi a conhecer os homens, e tolerar suas fraquezas, e a olha mais suas obras do que suas falhas. Uma a uma, venci todas as etapas da vida, de cabeça erguida, de olhos no futuro.Chorei quando tive que chorar.Cantei quando tive que cantar.Sorri quando tive que sorrir.È a vida.E a vida o que é, diga lá meu irmão!Fui Humano o bastante para compreender a humanidade feita de argila e ouro. Eu só vi o ouro.
Deixo aos que me amam a minha igual capacidade de amar. Amei .Tudo o que é belo: Um gesto de mulher, um afago de um filho, uma serenata, um jogo de futebol, um baile no GEU.Ah, o GEU, como o amei.Amei sua camisa, a sua bandeira e o seu hino.Acho que fui capaz de amar tudo e todos.Mesmo nas horas de desamor, eu camisa, a sua bandeira e o seu hino.Acho que fui capaz de amar tudo e todos.Mesmo nas horas de desamor, eu amei.
Deixo aos que enriqueceram a lição do desprendimento. O dinheiro passou por mim. Não ficou
Deixo aos que me odeiam, a minha pena. Deus me poupou de tal sentimento.Por mais que tentasse, nunca em minha vida compreendi o ódio.Recebi agravos, sofri ironias e raras vezes isso me revoltou.
Deixo aos que me amaram a minha desculpa por deixar seu convívio. Francamente, eu julgava ir muito mais longe. Estava preparado física e mentalmente. Plantava árvores e esperava colher os frutos. Mas tive de partir para uma grande viagem.
Deixo aos que me acompanharam no último adeus, a minha saudade.Naquela despedida marcada de tantas coroas de flores, que a cada passo se desprendiam e caiam pela cidade, como que marcando o compasso do meu adeus.
Deixo aos meus filhos a minha luta. A vocês, que nada posso lhes dar senão o meu exemplo de luta. Lutei, filhos, dia a dia por vocês e pelos meus sonhos.E vocês estavam incluídos neles.A vida continua e eu só lhes deixo o meu maior legado: A luta pela vida”.
Nelito
Nós perdemos um grande sacerdote
O Céu ganhou mais um Santo
Pressentindo a morte, Padre Antônio deixa registrado:
“Pedindo a Nossa Senhora toda sorte de graças para os meus parochianos e a misericórdia de Deus para minha alma desejando que o enterramento de meu corpo seja feito com toda modéstia e humildade christan, rogo a Exma. Snra. D. Modestina Chaves e a seu digno filho meu muito bondoso Amigo Snr. o Dr. José Miranda Chaves, residentes na cidade de Rio Casca, a caridade de como meus testamenteiros fazerem cumprir este meu testamento. E peço serem realizadas uma missa por ocasião de minha morte, no terceiro, no sétimo e no trigésimo dia!”.
Eram vinte e uma horas do dia 22 de julho de 1963, quando a notícia começa a se espalhar por Ponte Nova e todo Brasil. Falecera Pe. Antônio Pinto, vitimado pela idade, enfraquecido pelo árduo trabalho, pela pobreza e pela fome de tantas vezes, debaixo de sol e chuva no lombo de animais, depois de um longo calvário.
Internado no Hospital Nossa Senhora das Dores em Ponte Nova, desde 25 de maio do corrente, para onde fora levado pelo médico Dr. Abdalla Felício e recebido com carinho extremo por todos os profissionais de saúde que ali militavam, dentre os quais cabe ressaltar as Irmãs de Caridade “Filhas de Maria Auxiliadora”, que auxiliavam os médicos como enfermeiras e pregadoras da Palavra de Deus em prol da saúde dos pacientes.
No dia seguinte, uma missa é celebrada na Capela do Hospital e logo em seguida, sob forte comoção popular, o cortejo segue até a Igreja Matriz, na Avenida Caetano Marinho, onde milhares de pessoas aguardavam tristes e ansiosas para se despedirem daquele que consideravam Santo.
Tudo para em Ponte Nova e região. Os comércios fecham as portas, escolas, fábricas, tudo emudece. Os fiéis buscam a verdade. Queriam ver o Padre e se despedir dele, em última homenagem. O povo decreta feriado.
Naquele mesmo dia, o cortejo chega em Urucânia e fica exposto à visitação pública na Igreja da paróquia.
Caía a tarde, quando cerca de cinco mil pessoas levaram o saudoso Pe. Antônio Pinto até o cemitério local, onde permaneceria até o ano de 1975.
O médico, Dr. Abdalla, Prefeito de Ponte Nova, usando da palavra, despediu-se do Reverendo em nome da comunidade:
‘....Mas, não para chorar-vos, apenas, nos unimos, nesta hora de dor, em que e estende a tôdas as paragens do Brasil, ultrapassando os limites da Pátria, um manto de tristeza e de luto. Na antevisão da saudade perene, alanceadora, filha de vossa ausência, estamos aqui, certos do prêmio que o Senhor, na eterna mansão dos justos, ora vos confere. Aqui nos achamos, também, implorando-vos continui a olhar Ponte Nova e seus filhos com a mesma bondade e ternura que lhes dedicastes, no cumprimento do ministério divino. (...) Pedindo a última bênção, tributamos-nos a homenagem do nosso amor filial – pai de bondade que sempre fôstes – agradecendo a Deus a ventura que nos propiciou de vos acolhe de eleição, em cujos gestos, a par de copiosos favores espirituais, brotavam ensinamentos capazes de aperfeiçoar a almas, iluminá-las, encaminhá-las ao verdadeiro destino. (...) Havemos, os pontenovenses, de ter a vossa piedosa lição, rogando-vos seja o permanente intercessor junto ao Pai Comum, em pról da terra que tanto vos quis e tanto honrastes – e ora vos beija, entre lágrimas de saudade, as mãos sacrossantas. (...) Recebei, neste momento de universal angústia, Padre Antônio, a homenagem carinhosa, o preito de reconhecimento do Governo e do povo de Ponte Nova”. Discurso publicado no Jornal do Povo – Ponte Nova – 28.07.1963.
O Jornal do Povo traz publicado em 18 de agosto daquele mesmo ano: “Nesta época, Ponte Nova era o maior centro da agro-indústria do açúcar em Minas, duas estradas de ferro, vasta rede rodoviária, intenso intercâmbio com os mercados consumidores, dez agências bancárias, cinco usinas de açúcar, fundições, fábrica de papel, numerosas indústrias menores, ritmo de construções dos mais expressivos, movimento de veículos pouco observado no interior, cinco estabelecimentos de ensino secundário, três de assistência social, hospital modêlo, centro de saúde, ambulatórios, lactários, seis grupos escolares, unidades escolares dissemindas pela hiterlândia do Município, entidades esportivas e culturais excelentemente aparelhadas, fruto exclusivo da iniciativa local, parca de esportes do Estado, prestes a inaugurar-se...”
No cemitério de Urucânia permaneceram os restos mortais do querido e saudoso Pe. Antônio Pinto, por cerca de 12 anos, enquanto seguia a passos firmes a construção do Santuário de Nossa Senhora das Graças, fruto de seu cérebro desde os difíceis tempos de Seminário.

O Santuário é sua morada eterna
Passados doze anos de seu falecimento, o Sr. Arcebispo Dom Oscar de Oliveira autoriza o traslado dos restos mortais de Padre Antônio Pinto, do cemitério paroquial para um túmulo no Santuário de Nossa Senhora das Graças, ao lado do altar, onde será sua sepultura definitiva.
“Se pensarmos no amor e na saudade dos que foram seus – viveu pouco;
se pensarmos nos grandes feitos de sua vida – viveu muito;
se pensarmos nos tropeços com que defrontou – viveu mais do que muito;
se pensarmos no anseio imenso de quanto o conhecemos e admiramos – há de viver sempre ad multos annos”.
Ata da exumação dos restos mortais do Revmo Pe. Antônio Ribeiro Pinto

Aos dois (2) dias de abril de mil novecentos e setenta e cinco (1975), aniversário natalício do Revmo. Pe. Antônio Ribeiro Pinto, que completaria hoje 96 anos, as 9 hs., comparecemos no cemitério paroquial de Urucânia, o pároco local, Pe. Jaime Antunes de Souza, o Sr. Manoel Mayrink Neto, dd. Prefeito municipal, e mais os Revmos. Côn. Antônio de Pádua Souza, pároco de Mariana e Pe. Rafael Faraci, pároco de São Sebastião de Ponte Nova, os srs. Joaquim Ambrósio dos Santos, José Cândido, Raimundo Santos, Bernardino Alves Mayrink, Sebastião Barbosa, José Coelho, Antônio Oliveira Pinto, José Renato Mayrink, José de Castro Sobrinho, José M. Bayão, Vicente de Paula Henrique, Antônio Bartolomeu Barbosa e sra., Revda. Ir. Angélica Franciosi, srta. Alcione Gil, D. Maria da Glória Pinto Mayrink, Maria da Consolação Costa Castro, Jovita Maria de Castro e eu, Mons. Antônio Russo, Vigário Geral da arquidiocese, que lavro esta ata. Abriu-se, então, o túmulo do Revmo. Pe. Antônio Pinto, nascido em Rio Piracicaba, MG, aos 2 de abril de 1879, ordenado sacerdote aos 9 de abril de 1912, tendo sido pároco da vizinha cidade de Santo Antônio do Grama cerca de 26 anos, falecido no Hospital de Ponte Nova aos 22 de julho de 1963. Recolheram-se os seus ossos numa urna, que transportamos para a casa onde ele residiu em Urucânia por vários anos. No próximo dia 6 de abril, os seus restos serão transportados para serem inumados no seu túmulo definitivo, construído no interior do Santuário de Nossa Senhora das Graças de Urucânia, ao lado do altar-mor, onde benzendo na ocasião o túmulo, o Sr. Arcebispo de Mariana, O. Oscar de Oliveira, no próximo dia 9 de abril, celebrará solene Missa de Réquiem.
Para memória do ocorrido, lavrei esta ata, que assino, juntamente com as demais testemunhas.
Urucânia, 2 de abril de 1975
Mons. Antônio Russo, Vig. Geral
USINA JATIBOCA
BREVE HISTÓRIA
Em 1882, na cidade vizinha de Ponte Nova, os irmãos José Francisco e Ângelo Vieira Martins, fundaram a primeira usina de açúcar de Minas Gerais, chamada Usina do Pião – ou Usina Ana Florência -, em união societária com o cunhado Manoel Vieira de Souza e Silva e o tio Luiz Augusto de Souza e Silva.
Para se ter uma idéia do tamanho e da importância deste empreendimento, que espalhou cana-de-açúcar por toda região, possivelmente até o nome Urucânia derivou da fusão Urucu + Cana. Sabe-se ao certo que Urucu é o fruto de um arbusto denominado Urucuzeiro, de onde se extrai uma polpa de cor avermelhada, conhecida atualmente por coloral. Os silvícolas a utilizam para pinturas. Da enorme fartura de Urucu, mais o cultivo da cana que se espalhou rapidamente em virtude da fertilidade do solo, mais os costumes dos povos daquela época, com certeza derivou o nome Urucânia.
Urucu + Cana = Urucânia
Conta a história que em 1920, o filho de Luiz Augusto, Custódio Martins da Silva, reuniu um grupo societário e fundou a Usina Jatiboca, em terras localizadas no distrito pontenovense de Urucânia, mais precisamente em terras das Fazendas Jatiboca e Sobradinho, antes pertencentes a Marcos Giardini.
Segundo os estudiosos o nome “Jatiboca” diz respeito a uma espécie de bambu, muito espinhoso, predominante na região, facilmente encontrado por ali até os dias atuais.
A Usina Jatiboca produziu açúcar pela primeira vez em 1925/26, fornecendo para o mercado algo em torno de 2.832 sacos de 60 kg. Já em 1981/82 produzia álcool pela primeira vez, num total de 7.803 metros cúbicos.
Desde que fundada, a administração do grupo esteve em mãos da família fundadora, com destaque para Ary, Hélio e Luiz Carlos Soares Martins, filhos do fundador Custódio Martins da Silva. Praticamente todos os filhos destes têm atualmente participação ativa nos negócios da empresa, e empreendem com a mesma coragem e garra dos antepassados.
A história da Usina Jatiboca se confunde com a de Acácio Martins da Costa, personagem cujo registro torna-se obrigatório em virtude de toda uma vida de dedicação integral e exclusiva ao desenvolvimento da companhia. Quando convidado para participar da montagem da usina não pestanejou, e de suas mãos talentosas nasceram e/ou foram montados implementos importantes para o processo industrial, como engenhos, hidrelétrica e tantos outros.
Sô Acácio, como era carinhosamente tratado, foi um marco para sua época. De cor mulata, sujeito a todos os preconceitos comuns naqueles tempos, foi autodidata no estudo incansável da mecânica e pai adotivo de 10 (dez) filhos. Aos 92 (noventa e dois) anos realizou o sonho de estimular o ensino superior e implantou a Fundação Acácio Martins da Costa, mantenedora da Faculdade de Ciências Humanas do Vale do Piranga, em Ponte Nova. Foi agraciado pelo governo mineiro com a medalha da Inconfidência, uma das condecorações mais importantes do Estado. Morreu aos 104 (cento e quatro) anos.
A Usina Jatiboca empreendeu um projeto industrial em plena Zona da Mata Norte, espalhando suas atividades e trazendo progresso para todos os municípios da região, dentre os quais podemos citar Ponte Nova, Santa Cruz do Escalvado, Oratórios, Piedade de Ponte Nova, Jequeri, Santo Antônio do Grama, Rio Casca, Dom Silvério, São Domingos do Prata, dentre outros. O certo é que todos os municípios vizinhos se beneficiaram com o cultivo da cana, auferindo progresso no campo e em diversos outros setores sociais, que ao longo da história geraram e continuam gerando empregos.
Localizada a 200 Km de Belo Horizonte, vem desde a sua fundação imprimindo progresso a uma região de pouca atividade industrial, mais habituada a lavouras de subsistência, ou de porte médio. Para se ter uma idéia da sua força operacional, na safra de 2004 gerou em torno de 1.500 (um mil e quinhentos) empregos diretos e mantém atualmente, na entre-safra, 934 (novecentos e trinta e quatro) trabalhadores. A área ocupada com a produção de cana-de-açúcar chega a 9 mil hectares, entre terras próprias e de fornecedores, podendo produzir 750 mil toneladas por safra. Fora isto, são incontáveis os empregos indiretos que se fazem acontecer em virtude da circulação de riqueza, e diversos outros investimentos surgidos a cada ano em outros setores da economia regional que incentiva, nutrindo continuamente a possibilidade de aparecimento de novos empreendimentos.
Na última safra a usina moeu cerca de 600.000 (seiscentas mil) toneladas de cana. A safra, que durou 05 (cinco) meses e 20 (vinte) dias, resultou em 1.060.000 (hum milhão e sessenta mil) sacos de açúcar de cinqüenta quilos, e mais de 16.000.000 (dezesseis milhões) de litros de álcool carburante, entre anidro e hidratado.
Para se ter uma idéia da capacidade industrial - em números assustadores, a usina é capaz de moer diariamente 5.000 (cinco mil) toneladas de cana, chegando a produzir 2.000 sacos de açúcar de 50 kg, diante de um processo industrial que atende à mais moderna tecnologia, que vai desde o pagamento da cana por teor de sacarose até o processo de empacotamento. A marca comercial do açúcar e “Alvinho”.
Uma administração moderna e eficiente, que valoriza empregados e respectivas famílias, sempre foi a tônica empresarial da usina. Assim, são constantes os investimentos na construção e conservação de conjuntos habitacionais para atender a uma gama de funcionários, dotados de toda infra-estrutura urbana necessária, que primam pela atenção na oferta de serviços de saúde, serviço social, educação, esportes e lazer, transporte, correios, serviços bancários, farmácia, etc. O trabalhador conta na área de saúde com atendimento médico de urgência e convênios na rede médica e hospitalar da região, na assistência social uma complementação alimentar é oferecida aos colaboradores. Fora tudo isso, uma cooperativa de crédito funciona para atender às necessidades financeiras mais urgentes.
A preocupação com a preservação e recuperação do meio ambiente, com investimentos em técnicas e recursos avançados, tem sido realidade tal que em 1995 projeto ambiental da usina mereceu destaque na ONU (Organização das Nações Unidas), simbolizando a gerência constante e de expressiva preocupação com a exploração adequada dos recursos naturais, consoante a atual realidade mundial de preservação do meio-ambiente.
Apesar de décadas de dificuldades e enfrentamentos às vezes insólitos, a usina persiste apitando e exalando na chaminé o cheiro do progresso regional.
“A história do Vale do Piranga tem o cheiro adocicado exalado pelas moendas da Jatiboca.”
Nossa História
NOSSA HISTÓRIA
Os primeiros habitantes dessa cidade chegaram em meados do século XIX, instalando-se no local onde hoje é a sede do município. Por volta de 1869, Francisca Inácia da Incarnação, senhora fervorosamente católica, amiga dos escravos e protetora dos colonos, mandou erguer uma capela e uma casa para abrigar o sacerdote em terreno por ela doado. Na mesma época surgiu o cemitério, construído onde atualmente se encontra a Igreja Matriz. Além de Dona Francisca, doaram terras para o patrimônio do povoado: José de Assis, Manoel Inácio da Silva, Antônio Bento de Souza, Joana Cláudia, José da Silva e José Justiniano da Fonseca. Essas doações datam de 1862 a 1873. Como era grande a quantidade de urucum nestas terras, o povoado denominou-se Urucu e a capela foi dedicada à Nossa Senhora do Bom Sucesso do Urucu.
Em 13 agosto de 1873, inaugurava-se o povoado, sendo este elevado a Freguesia (povoado atendido por um sacerdote) pela Lei n.? 3.442, de 23 de setembro de 1887.
Em 17 de outubro de 1889, o povoado foi elevado à Vila e no dia 13 de setembro de 1891, pela Lei n.? 2.763, a mesma se tornou Distrito e na mesma ocasião, foi criado o povoado de Cardosos.
Em 11 de julho de 1895, a Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso foi canonicamente instituída, sendo Padre Francisco de Paula Gastani, seu primeiro vigário.
Posteriormente com a chegada de usinas açucareiras em 1924 e o cultivo extensivo da cana-de-açúcar nas proximidades do povoado, este passou a chamar-se Urucânia.
Em 31 de maio de 1938 pelo decreto lei Nº 09 da Prefeitura de Ponte Nova, foi constituída a área urbana do distrito e em 30 de dezembro de 1962, através do Decreto Lei Nº 2.764, o mesmo foi desmembrado do município de Ponte Nova. Com a emancipação político-administrativa, surge assim o município de Urucânia que foi solenemente instalado no dia 1º de março de 1963 com a nomeação do primeiro administrador José Pinheiro Brandão. Ainda neste ano, no dia 1º de setembro, acontece a eleição do Prefeito Municipal (Paulo Giardini) e a Câmara Municipal é composta pela primeira vez por nove vereadores.
UMA LENDA
Embora conheçamos a nossa história, sabe-se porém que alguns estudiosos vêem no étimo “uru” o significado de água, rio, lama, molhado... Isso se aplicaria então, ao caso da “biquinha”, que de conformidade com uma antiga lenda, “prende aqui para sempre quem dela beber”.
Pode ser uma lenda, mas o fato é que o município tem água em todas as suas divisas. Com o município de Santa Cruz do Escalvado, água do Córrego de São Tomé e Ribeirão São Vicente e ainda a cabeceira do Córrego Antônio Joaquim; seguidamente temos as águas entre os ribeirões do Escalvado e Jatiboca e às da Cabeceira do Córrego do facão... E vem mais águas: Córregos da Piedade, das Flechas, Feijão Cru, dos Índios, Rio Casca, Córregos Manteiga, Mendes, da Trindade, dos Barros e Ponte Queimada.
REFLEXOS DA NOSSA HISTÓRIA: AGRICULTURA E ECONOMIA
Na agricultura, desde seus verdes anos, Urucânia sempre esteve ligada ao cultivo e beneficiamento da cana-de-açúcar. Já em 1925, a Usina Jatiboca, instalada no município um ano antes, chegava a produzir cerca de 2.852 sacas de açúcar por dia. O transporte da cana era feito em carros de boi e a produção de açúcar escoada pela ferrovia federal. A produção da usina crescia em linha rápida, dando início em 1981 a produção de álcool combustível.
Durante um século a cana foi o principal fator de desenvolvimento da região. A usina, durante o apogeu, em escala cada vez mais crescente, chegou a produzir mais de 1 milhão de sacas de açúcar, gerando em torno de 3000 empregos diretos e 6000 indiretos. Foi de tal ordem a influência da cana, que a atividade agrícola em toda região, se voltava para sua produção. Foram os anos verdes do desenvolvimento regional.
Ao tempo em que as atividades no campo expandiam os canaviais, Urucânia recebia uma legião de famílias vindas de outras cidades, em busca de trabalho.
Este fato marcou sobremaneira a evolução da cidade. O município se viu diante da impossibilidade de abrigar em condições favoráveis todos os que a ele recorriam, causando um crescimento rápido e desordenado. Por outro lado, ocorreu um processo de perda de identidade, em função da população flutuante que se instalava, rebaixada a condições precaríssimas de sustento em decorrência dos baixos salários gerados pela atividade canavieira que não exige qualquer tipo de especialização.
O declínio da atividade não tardou a chegar, incitando uma verdadeira debandada de agricultores para a sede e para os distritos, ocasionando verdadeiros bolsões de pobreza. As grandes fazendas de outrora, na sua maioria, perderam a capacidade de investimento e muitas simplesmente desapareceram no contexto produtivo. A cana, por ser uma cultura que exige pouca ou nenhuma tecnologia, condicionou a classe produtora, furtando desta, a capacidade de instalar e exercer atividades mais rentáveis e exigentes em termos tecnológicos e produtivos. Alguns poucos produtores conseguiram sobreviver ao declínio da cultura e às turbulências do mercado globalizado, investindo na suinocultura comercial.
Grandes áreas de canaviais foram simplesmente transformadas em pasto para criação de gado, sem uma definição comercial do rebanho – o que é pior. Dezenas de pequenos produtores e suas famílias abandonaram os canaviais, vindo aportar na sede em busca de trabalho. Centenas de pessoas se dirigiram para outros centros em busca de melhores condições de vida. O subemprego, ou o completo desemprego passou a ser uma tônica na vida dessa gente.
Por outro lado, a evolução do quadro de oferta dos serviços públicos, quando comparado às necessidades instaladas em decorrência da desaceleração da atividade econômica municipal, revela uma lacuna preocupante. O poder público municipal arrasta-se, distante de garantir ao cidadão a prestação básica essencial. O processo decorre do crescimento da população urbana, do empobrecimento continuado desta e da incapacidade financeira do município realizar os investimentos necessários. Cada vez mais o município assume funções antes compartilhadas ou de inteira responsabilidade de outras esferas de governo.
A cidade carece de pesados investimentos no redimensionamento, melhoria, ampliação e tratamento de esgoto sanitário, lançado in natura nos córregos e nascentes. Falta drenagem pluvial na grande maioria das ruas, inviabilizando tecnicamente a implantação de calçamento, além claro, de onerar os custos deste. A iluminação pública não atende a totalidade urbana, enquanto que no campo ainda existe uma centena de propriedades em completa escuridão. Não existe patrulha agrícola, o que piora em muito as condições do homem no campo. As creches são mantidas pela municipalidade, além dos serviços básicos de atendimento médico.
PADRE ANTÔNIO PINTO
De 1845 até a chegada do Padre Antônio Pinto, espiritualmente Urucânia foi guiada por santos vigários, entre estes, o Padre Henrique de Souza Carvalho, Padre Efraim Solano Rocha, Padre Antônio de Pádua e Padre Tarcísio Mariano Lopes.
Sem desfazer, porém, do trabalho ingente, abnegado e silencioso de tantos sacerdotes a quem Urucânia tanto deve, jamais será esquecido o que fez o Padre Antônio Ribeiro Pinto, sacerdote dotado de poderosos atributos, vindo em 1946, de Santo Antônio do Grama. Tornou este município não apenas conhecido de todo o Brasil, mas até mesmo no exterior pelos seus incontáveis milagres. Praticamente não houve jornal e rádio que não falasse das graças e favores que obtiveram da Virgem Maria para todos os sofredores.
O lugarejo ainda descalço, se transforma num frenesi de estranhos, vindos de toda parte do Brasil e do exterior, em volumosas procissões de romeiros em busca de um alívio para os males do corpo e da alma.
O que o povo considerou – nós não queremos de modo algum adiantar aos juízos da Santa Igreja – “Os milagres de Padre Antônio”, correram o mundo, atravessando mares e fronteiras, envolvendo de maneira praticamente nunca visto o fervor dos mineiros.
“ Padre Antônio foi, sem dúvida, um homem de Deus, um predestinado que passou pelo mundo distribuindo graças e fazendo o bem, pregando e ensinando o evangelho (...), amando aos pobres e aos humildes, a eles dispensando paternal carinho e afeição, dedicando-lhes toda imensa bondade que morava em seu coração.
“ Sua vida foi de sacrifício e provações, tal qual a dos pobres que ele tanto amou”.
“ Homem de palavra simples, de gestos afáveis, de olhar sereno, de atos moderados, tinha Padre Antônio, a colorir-lhe a figura de uma auréola de pureza, inocência e santidade”.
Deixou anotado em 1º/05/1960: “Como ponto final de minha humilde obra no mundo, estou vivamente empenhado na construção do Santuário de Nossa Senhora das Graças, em Urucânia, para o que apelo para esses devotos sinceros, que assim retribuirão um pouco do muito que Ela tem dispensado ao Brasil e à Humanidade”.
Os corações dos seus íntimos, dos seus amigos, dos seus fiéis, dos seus irmãos no sacerdócio, enfim, de todos os que tiveram a ventura de conviver com o “Taumaturgo de Urucânia”, reunidos naquela imensa multidão, que silenciosa e emocionada, rendeu-lhe a tocante e derradeira homenagem [ era o dia 22 de julho de 1963, atualmente, dia de feriado em Urucânia, em sua homenagem], palmilharam comovidos no instante em que seu corpo baixava à terra, ao som tristonho dos sinos que dobravam à finados, exprimindo a cada badalada a dor comovente da ausência e da saudade.
Morreu Padre Antônio. Priva-se a comunidade urucaniense de seu pastor, do seu pai, do seu guia, do se amigo sincero e puro de todas as horas, que na Mansão Celestial, por certo continuará velando por ela e por todos nós. A arquidiocese de Mariana está de luto: perdeu um grande sacerdote; a igreja está em festa: O Céu ganhou um novo santo“.
A cada ano no seu dia 22 de julho, em Urucânia, celebra-se a sua memória presente nos corações e mentes de milhares de brasileiros e no período de 18 a 27 de novembro, é realizada a Festa da Medalha Milagrosa em honra à Nossa Senhora das Graças, data em que milhares de fieis recorrem ao Santuário onde estão depositados os restos mortais do Reverendo.
MUSEU PADRE ANTÔNIO PINTO
Com piedosa reverência, é muito visitado o “Museu Padre Antônio Pinto”. – É onde guardamos com carinho os objetos que pertenceram ao santo Padre Antônio. Toda a sua humildade, simplicidade e pobreza estão ali representadas nos seus objetos de uso caseiro. Demonstram a grandeza de sua alma de homem santo que viveu humildemente enquanto poderia viver no luxo e que preferiu viver uma vida simples ao lado da sua mãe espiritual, Nossa Senhora das Graças.”
Bastante interessante é o que está contiguamente guardado com idêntico carinho na “Sala dos Milagres”: “Lá vamos encontrar a comprovação dos seus milagres , pois ali podem ser vistos centenas de objetos de uso pessoal de romeiros que aqui vieram buscar um alívio para seus males e o encontrando, deixaram-no com a marca de sua fé”.
O SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS
Urucânia foi abençoada ao ser escolhida para presenciar os milagres de Nossa Senhora das Graças. Inúmeras pessoas dos mais longínquos lugares aqui vieram para procurar cura para seus males físicos e morais.
O monumental “Santuário de Nossa Senhora das Graças” foi inspirado pelo saudoso Padre Antônio Pinto, iniciado pelo seu xará Padre Antônio de Pádua e foi concluído pela generosa, entusiástica e piedosa colaboração de tantos urucanienses e visitantes, peregrinos e romeiros que aqui apareceram.
As linhas arquitetônicas do grandioso templo constituem alguma coisa de quase indescritível, já pelo dinâmico aparato, já pela beleza da arte, já pela privilegiada localização na colina onde está, proporcionando-nos belíssima visão panorâmica da cidade e aquela brisa deliciosamente fresquinha, leve, suave, acariciando em nosso rosto.
A grande imagem da Virgem, esculpida num só bloco de madeira pelo artista lusitano que tinha atelier no Rio de Janeiro (o mesmo que esculpiu o impressionante Senhor dos Passos que se encontra na Basílica de São José Operário, em Barbacena), está no altar-mor e parece olhar-nos... falar-nos!
Junto do altar-mor – lateralmente à esquerda – localiza-se o túmulo de Padre Antônio, daquele que já ficou conhecido no consenso popular como o “Taumaturgo de Urucânia”; sua sepultura está sempre ornamentada com flores naturais.
Nossa História
Fonte: Secretaria da Cultura em 01/10/1999
Bibliografia: Urucânia, sua história e sua gente - 1974 (Manoel Mayrink Neto) – Onde está declarado que houve consultas ao IBGE, arquivo Paroquial, arquivo da Prefeitura Municipal, arquivo da Cúria Diocesana de Mariana, Informes da Prefeitura de Ponte Nova e informações de pessoas idosas do município, destacando-se as do Ex-escrivão Sr Agenor de Godoy) – Cópia da crônica publicada no “Jornal do Povo”, de Ponte Nova; Museu Padre Antônio Pinto; Revista “Estrela do Mar” e Artigos sobre a Língua Tupi, do autor A. Maia.
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